Se, hoje, a presença de mulheres no dia a dia da crônica esportiva é realidade, há algumas décadas o contexto era diferente. A jornalista Marilene Dabus, uma das pioneiras na cobertura do futebol no Brasil, prestes a completar 80 anos de idade, fala sobre isso na autobiografia A Moça do Flamengo, título de estreia da Approach Editora e do selo Museu da Pelada. Em 140 páginas, ela divide com o leitor passagens de sua vida e a relação com bastidores de momentos icônicos na história do rubro-negro carioca.
Marilene Dabus desbravou um universo até hoje conhecido pelo machismo, nem sempre velado. Ela despontou em 1969, quando aceitou participar de um programa de conhecimentos na TV Tupi respondendo exclusivamente questões relativas à sua maior paixão, o Flamengo. “Foi um sucesso na época. Nas ruas, as pessoas me apontavam e diziam: Olha lá a moça do Flamengo!”, conta Marilene.
A partir do sucesso, a jornalista foi convidada por Samuel Wainer, dono do Última Hora, para ser setorista do time. Trabalhou na redação do jornal com nomes como Nelson Motta, Alberto Dines e Maneco Muller. Ainda no primeiro ano como repórter, foi processada pela direção do Flamengo por causa de uma matéria polêmica. Teve um affair com um zagueiro uruguaio do time, razão pela qual pediu para ser afastada do dia a dia da Gávea, passando a cobrir a seleção brasileira que o técnico João Saldanha preparava para a Copa do Mundo do México. Participou de vários programas de TV até retornar ao Flamengo, em meados da década de 1970. Chamada para integrar a FAF (Frente Ampla pelo Flamengo), partiu dela o convite para que Marcio Braga se candidatasse à presidência do clube. O que aconteceu a partir de então já é história. O Flamengo apresentou ao mundo um dos maiores times de todos os tempos, liderado por Zico – por sinal, Marilene escreveu a primeira matéria publicada na imprensa sobre o Galinho de Quintino, pelo Jornal dos Sports.
Mulher à frente de seu tempo, coube a ela levar o despacho judicial que possibilitou aos clubes brasileiros receber pelos direitos de transmissão de seus jogos, hoje a maior receita do futebol nacional. Foi responsável por estratégias e iniciativas de comunicação que contribuíram para o time rubro-negro alavancar sua torcida, tendo exercido, inclusive, o cargo de vice- presidente de comunicações do clube nos anos 1980.
Marilene Dabus também criou o Baile do Vermelho e Preto, a primeira butique do Flamengo e, mais recentemente, apelidou o CT de Vargem Grande de “ninho do urubu”.
Comments