top of page
Buscar
  • Foto do escritorbruno monteiro

O papel da memória na escrita autobiográfica

Atualizado: 14 de out. de 2020

www.revistadeletras.ufc.br





Nosso trabalho está centrado na leitura de Baú de ossos primeiro livro de memórias de Pedro Nava: suas leituras de infância e adolescência, a herança cultural, intelectual, científica e a exploração exaustiva das biografias familiares que o coloca numa posição concreta no clã e no grupo social de Minas Gerais do início do século XX. Em Baú de ossos, o personagem narrador possui a experiência do homem que caminha para a velhice e que dá um balanço em sua vida: encontramos a presença implacável da morte; encontramos também a herança dos antepassados, herança abstrata das leituras, evidenciadas claramente através das epígrafes que permeiam todo o texto de Baú de ossos; elas denunciam as intenções do memorialista e seu grau de integração com a literatura universal; denunciam o grau de intimidade com a “biblioteca” e a retradução das obras da literatura universal no universo particular e restrito da autobiografia do pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais; denunciam a reorganização interior do menino-homem Pedro Nava na literatura e na cultura Ocidental; encontramos também a presença de Proust e da memória involuntária, pois é através dela, por uma luz que se acende, pelo sabor de um rabanete ou pelo roçar das mãos em velhas cartas amareladas que a infância surge e Pedro Nava pode tirar do baú da memória toda a história de seus antepassados, e refazer, osso por osso, sua árvore genealógica, como pela escrita, forma o corpo de epígrafes, costura seu texto com apropriações e compõe sua biblioteca, ao mesmo tempo em que traça o perfil de seu ser biológico pela hereditariedade, compõe seu retrato cultural e intelectual. Em Baú de ossos procuraremos analisar Nava como “um arqueólogo” que desenterra os seus mortos, pela herança concreta – fotografias, pinturas e biografias – criando um novo corpo; e como “um bibliotecário” que pela herança abstrata, forma sua biblioteca, primeiro pelo amor à França, base de sua cultura e pela leitura de Proust influência primeira de sua obra.

9 visualizações0 comentário
bottom of page